Políticos fazem a festa “made in censura” para comemorar os 50 anos do Regime Militar – Por Cristiane Lopes*

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No dia 05 de outubro de 1988 foi promulgada a nossa última constituição, que instituiu os direitos democráticos da chamada Redemocratização depois de 20 anos de Ditadura Militar. Dentre muitos direitos e princípios, a Constituição de 88 trouxe de volta o direito da liberdade de expressão a todo cidadão, entretanto é comum vermos que atualmente há opiniões sufocadas pelos políticos que estão no poder.

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Recentemente tivemos o “caso Rachel Sheherazade”, a jornalista paraibana foi suspensa temporariamente da bancada do Jornal SBT Brasil, ela ficou nacionalmente conhecida por expor sua opinião a cerca de assuntos em maior evidência, geralmente com ênfase em temas políticos.

Pois bem, no dia 04 de Fevereiro, Rachel fez o seguinte comentário sobre um jovem menor de idade que foi linchado pela população após roubar um celular:

“O marginalzinho amarrado ao poste era tão inocente que em vez de prestar queixa contra seus agressores, preferiu fugir, antes que ele mesmo acabasse preso.

É que a ficha do sujeito – ladrão conhecido na região — está mais suja do que pau de galinheiro.
Num país que ostenta incríveis 26 assassinatos a cada 100 mil habitantes, que arquiva mais de 80% de inquéritos de homicídio e sofre de violência endêmica, a atitude dos “vingadores” é até compreensível.
O Estado é omisso. A polícia, desmoralizada. A Justiça é falha. O que resta ao cidadão de bem, que, ainda por cima, foi desarmado?

Se defender, claro!

O contra-ataque aos bandidos é o que eu chamo de legítima defesa coletiva de uma sociedade sem Estado contra um estado de violência sem limite.

E aos defensores dos Direitos Humanos, que se apiedaram do marginalzinho no poste, lanço uma campanha:

‘Façam um favor ao Brasil. Adote um bandido!’.”

Este comentário foi suficiente para que alguns políticos e até alguns jornalistas julgassem Rachel como irresponsável, imatura, desumana, desinformada e até burra. E aí, a jornalista teria sido irresponsável, preconceituosa, radical ou simplesmente usufruiu o direito de liberdade de expressão para externar sua opinião?

Francamente, não sejamos hipócritas, Rachel, assim como todos nós, tem o direito de expor sua opinião. Isso está presente na Constituição de 88, artigo 220: A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.

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Portanto, é direito de qualquer cidadão comum ter a liberdade para opinar, conquistamos esse direito após 20 anos de censura e violência de um Regime Militar que sufocou nosso país e não será por hipocrisia ou jogo de poder que vamos nos deixar alienar por um sistema político que aplaude a ausência do senso crítico da maioria da população.

Pessoas como Rachel, com toda a visibilidade que tem, colaboram bastante para a retirada da população do “Mundo sensível” que Platão tanto criticava. Ela leva para a população informações e críticas de todos os problemas crônicos que o nosso país sofre, nos instiga analisar os fatos de forma crítica, pois é de senso crítico que a população precisa.

Lógico que para a maioria dos políticos, quanto mais alienada for a população, melhor. Tanto que a deputada federal Jandira Feghali (PC do B – RJ) enviou uma representação para a Procuradoria Geral da República (PGR) contra a jornalista Rachel Sheherazade, afirmando que a jornalista fez apologia ao crime ao “incitar” a vingança da população para com o jovem infrator. Além disso, o SBT de certa forma ameaçado caso não retirasse Rachel do ar, a emissora poderia perder a verba que o governo federal repassa para todos os canais de TV, neste caso, o SBT perderia cerca de 150 milhões de reais.

Nossa! Por que será que a deputada Jandira Feghali e o governo federal ficaram tão incomodados com o comentário de Rachel, seria apenas esse comentário que gerou toda uma revolta?

Estamos em um ano político, é a hora de todos os políticos tentarem aparecer de qualquer forma para que a população lembre-se deles. Ora dona Jandira Feghali, interessante saber que você como líder do PC do B está incomodada com a opinião de Rachel, com certeza é pelo fato de que a jornalista expõe informações de milícias não só do seu partido, como também do PSOL e PT. Além de apontar os demais podres políticos que assolam nosso país.

Só lembrando que o PC do B é um partido que apoia a ditadura Chavista e Cubana, ou seja, primam por uma sociedade alienada e sem de direitos de liberdade. A deputada afirma que Rachel fez apologia ao crime, e desde quando ser compreensível com algo é incitar ou fazer apologia?

Olha deputada, está faltando experiência de dicionário. Ser compreensível tem um significado bem diferente de apologia, vamos aprender deputada?

Observe a diferença:

APOLOGIA: Discurso ou escrito que defende, justifica, elogia uma pessoa ou coisa: fazer a apologia da reforma.

COMPREENSÍVEL: Que se consegue compreender; passível de compreensão; fácil ou acessível.

Entendeu a diferença das palavras, querida deputada? Pois é, vamos tentar aparecer, mas desde que seja baseado em algo que mude a nossa realidade, que tal a senhora incentivar um maior investimento em políticas públicas que tanto precisamos? Pelo menos não passaria a vergonha de confundir significados de palavras novamente.

Já ao governo federal, eu pergunto: O Brasil vai ser menos acometido de violência, corrupção, pobreza e analfabetismo caso Rachel seja demitida?

Não, claro que não! A demissão dela não mudaria nossa atual situação, seria apenas mais um cidadão crítico que teve o direito de opinar censurado, pois no Brasil ser contra as atitudes do governo é quase um crime. O maior problema dos políticos brasileiros não é só a falta de ética e o excesso de tendência a corrupção, mas sim a hipocrisia. São hipócritas e utilizam essa característica para criar a população à fantasia de um país maravilhoso que ajuda os menos necessitados com bolsas que na verdade são compra de votos criados pelo PT.

Temos direitos e deveres assegurados pela Constituição de 88, no entanto, em sua maioria, não servem, pois a população não está ciente de seus direitos e menos ainda de seus deveres, por isso que vive aprisionada ao “voto de cabresto”, aquele utilizado pelo sistema do Coronelismo no início do século XX. Os políticos se aproveitam disso para “deitar e rolar” sobre os direitos do cidadão, é comum, muitas pessoas votarem em troca de empregos no munícipio e serem obrigadas a dizer que tudo está as mil maravilhas na cidade ou perderá seu emprego, isso é censura.

E como se já não bastasse esse retorno forçado ao Coronelismo, ainda tem a vulgo comemoração que Jandira Feghali e o governo federal estão fazendo aos 50 anos da Ditadura Militar, até porque essa prática de censura aos comentários de Rachel só pode ser inspirada ou uma homenagem aos militares, que utilizavam bastante a censura para calar os estudantes, artistas, intelectuais e políticos que eram contrários à ditadura.

Eita! Políticos brasileiros sempre com essa mania de comemorar vitórias ilusórias. E que tal destruirmos as comemorações? Afinal ter liberdade para se expressar é motivo suficiente para estragarmos a festa “made in censura” da política brasileira e Rachel, por favor, continue com seus comentários, pois eles representam o estado de um país apegado a sistemas políticos que preferem que a população viva no “mundo sensível” e não no “mundo das ideias”.

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*Cristiane Lopes é acadêmica de Pedagogia na Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), campus de Bacabal.

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Sobre o autor | Website

Blogueiro há 15 anos da área de Educação e Concursos, já publiquei mais de 6.059 notícias; Jornalista Técnico (Registro Nº 1102-MA - Ministério do Trabalho); Mestre em Ciência da Computação (UFMA), Doutorando em Biotecnologia (UFDPar). Em tempos de desinformação e fake news, o Castro Digital reforça o compromisso com o jornalismo de qualidade. Publico informações de forma responsável e que você pode confiar. Currículo Lattes.

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